Maricultura
O que é maricultura?
Maricultura é o cultivo de organismos aquáticos em ambiente marinho ou costeiro. A maricultura inclui a criação de moluscos (ostras, mexilhões e vieiras), crustáceos, peixes e algas. A atividade é uma forma de aproveitar o potencial dos oceanos e mares para a produção de alimentos e outros insumos, além de contribuir para a geração de renda e empregos em comunidades costeiras. A maricultura também pode ter um papel importante na preservação dos ecossistemas marinhos, se realizada de forma sustentável e responsável.
A maricultura é uma atividade econômica importante no Brasil e com investimentos precisos, possui um grande potencial para crescer ainda mais. Contudo, ressalta-se que os principais desafios da atividade são falta de pesquisas e tecnologia e incentivos governamentais. Além disso, a atividade exige conhecimentos técnicos específicos, incluindo a seleção de sementes e alevinos de qualidade, o monitoramento das condições de água, a alimentação adequada dos animais e a escolha da espécie.
E a escolha das espécies é uma das principais premissas da atividade, uma vez que aproximadamente 80% das populações marinhas selvagens são exploradas no limite de sua capacidade, quando não completamente esgotadas (Figura 1).
Fonte: FAO. 2022. The State of World Fisheries and Aquaculture 2022. Towards Blue Transformation. Rome, FAO.
Ou seja, peixes e frutos do mar vêm sendo capturados em uma taxa superior à sua capacidade de reprodução. Fato que pode levar a um colapso do sistema pesqueiro e desencadear no desequilíbrio ambiental da complexa cadeia oceânica, a nível mundial.
No Brasil, a atividade pesqueira é tradicionalmente realizada em pequena e média escalas pelas populações das regiões costeiras do país, configurando-se como importante, se não, a sua única fonte de renda. No entanto, a sustentabilidade dos estoques pesqueiros mostra sinais de colapso, gerando desta forma, preocupação com a geração de renda e segurança alimentar destas populações.
Sabe-se que o consumo de pescado cresce a um ritmo acelerado, impulsionado pela alta demanda pelos produtos, uma vez que este crescimento está relacionado ao aumento populacional e aos diversos benefícios para a saúde em comer frutos do mar, os quais são considerados fontes de proteínas magras, ricas em ácidos gráxos, ômega 3 e taminas, cálcio, ferro e selênio e vitamina D.
Atualmente, o consumo de peixe representa cerca de 17% da proteína animal consumida no mundo e fonte de alimento para mais de 3,3 bilhões de pessoas. Desta forma, estima-se que a demanda de pescado ultrapassará a oferta nos próximos anos, de forma que não poderá ser suprida pela pesca de indivíduos selvagens.
Neste horizonte, a maricultura é considerada uma alternativa sustentável em relação à pesca extrativa. Além disso, acredita- se que o cultivo de espécies aquáticas deve contribuir de forma decisiva para a alimentação humana, já que os índices de produção extrativa se mantêm estáveis desde a década de 1980, e a aquicultura mostra expressivos sinais de crescimento (Figura 2).
Fonte: FAO. 2022. The State of World Fisheries and Aquaculture 2022. Towards Blue Transformation. Rome, FAO.
Considera-se que aquicultura deve passar a pesca em toneladas produzidas, com um crescimento previsto de 32% (26 milhões de toneladas) até 2030, sobretudo na África e na América Latina. Nesse contexto, serão reunidas condições para melhorar a nutrição da humanidade e ao mesmo tempo, ferramentas que ajudarão diminuir a pobreza no meio rural e as desigualdades sociais em regiões costeiras.
Além disso, a maricultura vem ainda sendo apontada como de extrema importância por fornecer alimento e abrigo para diversas espécies que constituem a base da cadeia alimentar marinha. O cultivo de espécies como moluscos e algas desempenham papel central para a qualidade das águas oceânicas. O cultivo de algas pode exercer a função remediadora de águas contaminadas, relacionando-se ainda, com o sequestro de carbono, o qual o reduz o impacto negativo do efeito estufa.
A maricultura pode ter vários impactos, positivos e negativos, sobre o meio ambiente e sobre as comunidades locais. Alguns exemplos de impactos são:
Impactos positivos:
- A maricultura pode fornecer uma fonte de alimento e renda para comunidades costeiras, ajudando a melhorar a segurança alimentar e reduzir a pobreza.
- A criação de organismos aquáticos pode ajudar a restaurar a biodiversidade marinha, fornecendo habitats artificiais e reduzindo a pressão sobre populações selvagens.
- A maricultura pode contribuir para a redução da pesca predatória, já que os produtos cultivados podem substituir espécies capturadas na natureza.
Impactos negativos:
- A maricultura pode causar a poluição do ambiente marinho, através da acumulação de sedimentos, nutrientes e produtos químicos usados na produção.
- A introdução de espécies não nativas para cultivo pode levar à perda de biodiversidade, já que essas espécies podem competir com as nativas e alterar a composição das comunidades locais.
- A criação de organismos aquáticos pode contribuir para a propagação de doenças e parasitas, que podem afetar populações selvagens e outras espécies cultivadas.
É importante notar que o impacto da maricultura pode variar dependendo do tipo de organismos aquáticos cultivados, das técnicas de produção utilizadas e da localização dos empreendimentos. Portanto, é fundamental que a maricultura seja gerenciada de forma sustentável, levando em conta os impactos ambientais e sociais, para minimizar os efeitos negativos e maximizar os benefícios para as comunidades e o meio ambiente.
O desenvolvimento sustentável da maricultura deve ser pensado à luz da procedência e da identidade dos produtos, assentada não apenas em critérios de preço, mas também em valores sociais e significados simbólicos, culturais, éticos e ambientais. De modo que as iniciativas priorizem alternativas ao sistema agroalimentar dominante, buscando o encurtamento das distâncias (físicas, sociais, culturais, econômicas) entre o mundo da produção e do consumo. A produção de alimentos próximo aos locais de demanda, fortalece o desenvolvimento de cadeias produtivas de baixo carbono, reduzindo os impactos ambientais e econômicos relacionados ao transporte, armazenamento e processamento dos produtos derivados
Maricultura no Brasil
As principais espécies cultivadas na maricultura brasileira são ostras, mexilhões e vieiras. Outras espécies, como o camarão e o peixe, também são cultivadas em menor escala. A produção de mariscos é mais comum na região sul do Brasil, especialmente nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No entanto, a atividade também é praticada em outras regiões costeiras, como São Paulo e Bahia.
O cultivo de organismos marinhos pode ser realizado de diferentes formas, dependendo da espécie e das condições ambientais. Por exemplo, o cultivo de ostras e mexilhões é frequentemente feito em estruturas suspensas em cordas, enquanto o cultivo de peixes pode ser feito em tanques ou jaulas submersas. Conheça mais sobre esses tipos de cultivo:
Moluscos
O cultivo de moluscos no Brasil é uma atividade importante, tanto para a produção de alimentos, como para a geração de empregos e renda para muitas comunidades costeiras. Os moluscos cultivados no Brasil incluem principalmente mexilhões, ostras e vieiras. As espécies de moluscos mais cultivadas no Brasil são o mexilhão Perna perna, a ostra Crassostrea gigas e a vieira Nodipecten nodosus. Os cultivos de moluscos no Brasil estão localizados principalmente nas regiões costeiras do país, como Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
O mercado de moluscos no Brasil é dominado pelas espécies de ostras e mexilhões, que são consumidos tanto em mercados internos, quanto exportados para outros países. O setor de cultivo de moluscos tem crescido nos últimos anos, com a ampliação da produção e a adoção de práticas mais sustentáveis.
As técnicas de cultivo de moluscos no Brasil variam de acordo com a espécie e a região. No entanto, os métodos mais comuns incluem o cultivo em sistemas suspensos em cordas, longlines ou balsas, e o cultivo em sistemas de cultivo de fundo.
O cultivo de moluscos é uma atividade importante no Brasil, que pode trazer benefícios econômicos e sociais para as comunidades costeiras. No entanto, é importante que seja realizado de forma sustentável e responsável, para minimizar os impactos ambientais negativos e garantir a qualidade e segurança dos produtos. O cultivo de moluscos pode ter impactos ambientais negativos, como a contaminação da água e a interferência na fauna e flora locais. No entanto, quando realizado de forma sustentável e responsável, pode trazer benefícios econômicos e sociais para as comunidades costeiras.
A produção de mariscos contribui para a segurança alimentar do país e oferece oportunidades de emprego e renda para as comunidades costeiras, oferecendo uma fonte de proteína de alta qualidade. O mexilhão Perna perna é uma espécie de molusco bivalve comumente encontrada nas regiões costeiras do Atlântico, incluindo a costa do Brasil. Eles são muito valorizados na indústria de frutos do mar, tanto pela sua carne saborosa, como pela sua capacidade de filtrar a água, os quais ajudam manter ecossistemas saudáveis.
Mexilhão
A criação de mexilhões em cultivo é uma atividade que vem se desenvolvendo no país nas últimas décadas, principalmente nos estados do sul e sudeste. O cultivo de mexilhões é uma atividade sustentável e economicamente viável, além de contribuir para a preservação do meio ambiente. Os mexilhões alimentam-se filtrando a água e removendo partículas em suspensão, e por consequência, acabam melhorando a qualidade da água nas quais são cultivados.
Os principais estados produtores de mexilhões no Brasil são Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo. O cultivo é realizado em áreas de mar aberto ou em áreas de estuários, utilizando-se estruturas flutuantes, como balsas e cordas.
É importante destacar que a criação de mexilhões requer cuidados especiais, como a escolha de áreas adequadas e a monitorização constante da qualidade da água e das condições de cultivo. Além disso, é necessário atender as legislações ambiental e sanitária vigentes para a prática dessa atividade.
Os mexilhões Perna perna são cultivados em fazendas marinhas e em sistemas suspensos, onde as sementes se fixam em cordas ou redes e crescem até a maturidade. Eles são relativamente fáceis de cultivar e crescem rapidamente, tornando-se importante para segurança alimentar e renda de comunidades costeiras.
Diferente das outras espécies de moluscos, como vieiras e ostras, as sementes do mexilhão fixam-se naturalmente nas estruturas de cultivo. Por isso, não é necessário adquirir formas jovens, tornando o custo de produção muito menor. Importante ressaltar, no entanto, que a temperatura da água influencia muito na quantidade de sementes naturalmente disponíveis. Portanto, mesmo que seja possível a captação natural, a existência de laboratórios de reprodução é importante para a segurança do produtor.
Vieira
A vieira Nodipecten nodosus é uma espécie de molusco bivalve valorizada por sua carne saborosa e delicada, que é muito apreciada na culinária. Elas são encontradas em regiões costeiras do Atlântico, incluindo a costa do Brasil, e são cultivadas em fazendas marinhas ou sistemas suspensos. O cultivo de vieiras Nodipecten nodosus é uma atividade relativamente nova no país e apresenta desafios únicos. É uma espécie sensível e requer condições ambientais específicas para crescer e se reproduzir com sucesso.
Apesar dos desafios, o cultivo de vieira apresenta grande potencial, devido à alta demanda por essa espécie no mercado consumidor. Com a implementação de práticas de cultivo sustentáveis e eficientes, a produção de vieira Nodipecten nodosus pode se tornar uma atividade rentável e importante para a economia do país, fornecendo empregos e renda para as comunidades locais.
Ostras
O cultivo de ostras é uma atividade importante na região litorânea do estado de São Paulo, especialmente nas cidades de Cananéia, Ilha Comprida e Iguape. As ostras são criadas em fazendas marinhas chamadas de ostreiculturas, que são instaladas em áreas com águas rasas e com boa qualidade para o desenvolvimento dos moluscos.
A produção de ostras em São Paulo é realizada principalmente com as espécies Crassostrea gigas e Crassostrea brasiliana, que são as variedades mais adequadas para o clima e condições locais. O processo de cultivo envolve a produção de sementes em laboratório, que depois são transferidas para as ostreiculturas, onde são colocadas em sacos ou suspensas em cordas, para crescerem e se desenvolverem.
O cultivo de ostras é uma atividade sustentável e economicamente viável, além de contribuir para a preservação do meio ambiente. As ostras também são filtradoras, removendo partículas em suspensão e melhorando a qualidade da água. É importante destacar que a criação de ostras requer cuidados especiais, como a escolha de áreas adequadas e a monitorização constante da qualidade da água e das condições de cultivo. Além disso, é necessário atender as legislações ambiental e sanitária vigentes para a prática dessa atividade.
Algas Marinhas
A Kappaphycus alvarezii é uma das espécies de alga mais cultivadas em regiões tropicais do Oceano Pacífico, incluindo a Indonésia, Filipinas, Malásia, Tailândia e Vietnã. É uma alga de crescimento rápido que pode atingir até 3 metros de comprimento, caracterizada por apresentar muitas ramificações e ramos tubulares.
A K. alvarezii é amplamente cultivada para a produção de carragena, um polissacarídeo utilizado nas indústrias alimentícia, farmacêutica e de cosméticos. Sua produção envolve o processamento em uma solução alcalina para extrair os polissacarídeos que compõem a carragenina, a qual é usada como espessante em uma variedade de produtos alimentícios (sorvete, iogurte e molhos), podendo também ser utilizada na alimentação animal, como suplemento nutricional. Além disso, tem sido estudada por suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, havendo substancial interesse em seu potencial como uma fonte de compostos bioativos.
Nesse contexto, o cultivo da Kappaphycus alvarezii é considerada uma atividade importante para a economia de muitos países em desenvolvimento, proporcionando empregos e renda para as comunidades locais. Inclusive, pode também fornecer benefícios ambientais, uma vez que realizam o sequestro de carbono e removem o excesso de nutrientes da água, armazenando-os na sua biomassa.
Peixes
O cultivo de peixes marinhos tem grande potencial de mercado, já que a demanda por peixes de qualidade e criados de forma sustentável, tem crescido nos últimos anos. Espécies como bijupirá, garoupa, robalo e o vermelho vêm sendo consideradas como potenciais para a produção comercial, as quais podem gerar empregos e renda para as comunidades costeiras, favorecendo o desenvolvimento local.
O cultivo de peixes marinhos pode ser uma atividade sustentável e economicamente viável que contribui para a preservação do meio ambiente, podendo ser realizado em tanques-rede, que são estruturas flutuantes instaladas em águas abrigadas, ou em sistemas de cultivo em terra.
O cultivo de peixes marinhos é uma atividade que exige cuidados especiais com a qualidade da água, com os manejos alimentar e sanitário e as escolhas das espécies e das áreas de cultivo. É importante destacar que a criação de peixes marinhos requer licenciamentos ambiental e sanitário, além de seguir as normas e regulamentações vigentes para a atividade. A sustentabilidade e a responsabilidade social devem estar sempre presentes na atividade, visando a preservação dos recursos naturais e o bem-estar das comunidades envolvidas.
Bijupirá
O Bijupirá é um peixe de água salgada que pode ser encontrado na costa brasileira. O seu cultivo comercial tem crescido nos últimos anos devido à sua carne saborosa e à grande demanda do mercado.
O cultivo é feito em tanques-rede instalados em áreas marinhas abrigadas e com boa qualidade da água. O processo de cultivo começa com a aquisição de alevinos, em laboratórios especializados. Durante todo o processo de cultivo, é importante monitorar a qualidade da água e a saúde dos peixes, bem como oferecer uma alimentação de ótima qualidade, a fim de evitar problemas como doenças ou mortalidade e os impactos no ambiente ao redor.