Benefícios ambientais da Maricultura
Um grupo de cientistas e pesquisadores estrangeiros, se reuniram e analisaram 65 estudos para quantificar os benefícios relativos do habitat das fazendas de mexilhões, ostras, moluscos e algas marinhas. Os resultados mostram que os sistemas de cultivo para essas espécies impactam positivamente, não só apenas na diversidade, mas também na abundância de peixes e invertebrados em comparação com locais nas proximidades sem maricultura presente.
O cultivo de bivalves – animais de duas conchas como mexilhões, ostras e moluscos – parece fornecer habitat de forma mais eficaz do que a maricultura de algas marinhas.
As fazendas de mexilhões atraem uma maior abundância de organismos – em média cerca de 3,6 vezes mais peixes e invertebrados, em comparação com os locais de referência. As fazendas de ostras, por outro lado, são as que atraem a maior diversidade de espécies, como: esponjas, cnidários medusas, corais, vermes marinhos, moluscos (caracóis, lesmas), artrópodes (caranguejos, camarões, lagostas) e equinodermos (estrelas do mar, ouriços do mar) com 1,3 vezes maior diversidade em relação aos locais de referência do estudo.
Além de fornecer o próprio ambiente, as fazendas de algas e moluscos também podem aumentar a capacidade dos organismos selvagens de sobreviver e se reproduzir. Os organismos menores utilizam a estrutura da fazenda como refúgio de predadores, e se alimentam do animal cultivado e outros organismos nascidos nos petrechos e no entorno do cultivo. Esse novo cenário atrai predadores maiores que por sua vez podem ser atraídos por toda essa movimentação do cultivo, ou até mesmo, um local de caça para os peixes menores e invertebrados que vivem ao redor das fazendas. Quaisquer organismos que sobrevivem e se reproduzem fornecem alimento para predadores por meio de seus descendentes.
Muitos bivalves são reprodutores por transmissão, ou seja, enviam seus filhotes para a coluna d’água, os sobreviventes flutuam e nadam em busca de proteção, estabelecendo e sustentando populações marinhas. Considerando isso, as estruturas das fazendas apresentam de forma expressiva um conjunto habitacional, contribuindo com a recuperação da biodiversidade.
Cuidados
Semelhante a muitas considerações de sustentabilidade ambiental que afetam outros segmentos, o sucesso de um cultivo deve acontecer de forma equilibrada com o ambiente. O planejamento de produção deve ser cuidadoso, incluindo boas práticas em todo o ciclo de produção. Fazendas lotadas, em locais de baixa força de correntes marítimas, construídas sobre locais geograficamente inapropriados, próximos a estuários, ou que produzem poluição por plástico, podem causar sérios danos no ecossistema marinho e para a saúde humana.
Como os cultivos de mariscos e algas fornecem benefícios ao ambiente Marinho?
Os Mariscos e algas marinhas fornecem abrigo para a vida marinha de três maneiras principais:
Situação (1) Forragem: os predadores se alimentam das espécies marinhas, e as espécies mortas permanecem no fundo.
Situação (2) Refúgio: fazendas de maricultura criam estrutura de vida complexa em 3D para invertebrados e peixes para viver.
Situação (3) Reprodução: espécies de bivalves e algas se reproduzem nos cultivos e ajudam a reconstruir a população, espécies selvagens utilizam equipamentos de maricultura como abrigo e desova.

O artigo demonstra um vasto potencial para a produção de alimentos em harmonia com os ecossistemas oceânicos.
Essas descobertas são fundamentais para repensar como os sistemas de produção de alimentos podem suprir as necessidades humanas, ao mesmo tempo em que proporcionam benefícios “restaurativos” aos nossos ecossistemas em geral.
O consumo de peixes e a indústria da aquicultura são a escolha proteica que mais cresce para a dieta e a produção de alimentos no mundo neste momento, por isso há uma necessidade urgente de escalar soluções que possam fornecer frutos do mar sem danificar os ecossistemas.
Os autores deste estudo apontam que, um forte planejamento em escala de fazendas marinhas, seja fundamental para a criação responsável de abrigo, a política colaborativa pode gerar mudanças em escalas maiores. Os esforços de conservação, como as áreas marinhas protegidas, têm historicamente oportunidades restritas para a maricultura de moluscos e algas devido ao seu status de indústria, quando fazendas bem administradas por seus empreendedores, respeitando as peculiaridades diversas seja locais, sociais e culturais do entorno, podem de fato ajudar a alcançar os objetivos de conservação pretendidos desses esforços. Colaborações inovadoras entre a governança estadual ou local e as pessoas afetadas por tais políticas podem levar a novas maneiras de pensar e gerenciar os aspectos sociais e ambientais da maricultura de algas e moluscos.
Vamos pensar em como incentivar de forma mais eficaz e responsável as práticas restaurativas e como essa mudança pode beneficiar os ecossistemas marinhos e as comunidades em geral.
Lucas de Castro Navarro
Maricultor
fonte: https://www.fisheries.noaa.gov/
Livro: Produção de Natureza / Ignacio Jiménez Pérez